Motivos

Motivos

Por que me abandonaste?
Por que me deixaste à margem dos meus tormentos?
Por que me abandonaste ao sabor das minhas perdições?
Meus delírios são tão soturnos e a minha existência é pragmática.
Volta e traz contigo o sol que morreu com o teu adeus,
Devolve os meus sonhos coloridos e
os meus mais ternos sentimentos de liberdade.
Tua presença é bendita em mim e o
teu odor inebria-me sobremaneira,
por isso torna a viver, mesmo silenciosa,
em minha tão vaga vida, em minha tão pequena existência.
Volta, pois a tua presença é vida em mim,
a tua vida é eternidade em meus dias,
respirando ao meu lado, sorrindo em meu rosto,
acariciando as minhas tristezas para sublimá-las,
transformando-as em algo me trazendo alívio,
como uma alquimia abençoada trazida pelas mãos do amor.
Por que me torturas com o teu vazio, com a tua frieza,
com a tua distância, com o teu prazer morno?
Torne, pois, a fazer morada em meus braços,
a ter vida em minha vida, a perecer lentamente ao meu lado.
Torne, pois, lívida para que eu possa te pintar com minhas cores,
com minhas dores, com minhas agruras e alegrias.
Torne a mim sem medo, sem travas, desnuda,
ou então fique distante de minha tristeza e
perambule intimamente maculada pelo meu amor desencantado.