terça-feira, 21 de agosto de 2007

Palavras

Anima*

Adeus, pois sei que a tua presença bateu a porta e partiu.
Deixou-me jogada, a carne marcada pelos teus braços,
pelos teus beijos, teus gracejos, teu ocaso.
Arrancou-me a alma pudica, desvendou os meus pudores,
os meus medos, as minhas castidades e
deixou em mim a insana, a devassa, a perdida.
Bateu a porta e se foi e contigo a minha prisão,
a minha angústia, a perdição terrena,
os meus sussurros, os meus açoites noturnos,
meus gemidos rasgados, a minha pele usada,
rasgada por seus beijos sôfregos, desesperados, insanos, precoces.
Adeus, meus segredos ainda são seus, os atalhos do meu corpo,
as curvas dos meus desejos, mas, tudo enquanto ainda não vivo;
enquanto ainda guardo em mim as lembranças das suas lascívias,
dos seus verbos soltos, do seu corpo teso,
das suas taras benditas, das suas noite sem mim.
Adeus, mas sem poesia, sem palavras, sem choro, sem grito,
pois meu corpo permanece inerte.
Insólito estado em nosso quarto, em nossa cama.
Sorria enquanto sou sua, enquanto lembro, revivo, remôo,
pois, em que pese tudo de você em mim,
longe de ti tornarei a viver.
Em plena liberdade.
Em plena vida.

* Na psicologia junguiana, o princípio feminino da psique do ser humano. [Cf. animus.]

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