segunda-feira, 28 de julho de 2008

Palavras

DESCRIÇÃO DE UM SONHO

Chamo minha loucura pelo nome.
Em vão. O grito cai na sua surdez fria e some, morre;

esvaece pelo ar, ocultando- se no mundo,
fugindo de minha presença.
Cato minha loucura pela mão,
tento embalá- la em ritmo eterno
para findarmos no poente,
deitados no horizonte,
vendo o universo passar.
Beijo minha loucura na boca.
Faço poesia em seus lábios e declamo- a em seu corpo nú.
Cada poro, estrofe de delírios imensuráveis.
Pratico minha ode e me encontro em você,
uno- me às suas carnes e
esvaio- me em orgasmo rimado,
de poemas concretos e surrealistas.
O seu prazer rasga a minha pele e
crava as unhas em mim
(como fosse esta paixão a libertação da alma) e
suamos sonetos shakesperianos.
Que nossos corpos se esfacelem em
mil luzes, mil tons,
banhem o mundo e girem, girem.
E, em nossa ciranda, evaporem os medos e as dores.
Sobrem seu recato oculto, sua devassidão inocente,
nossa imortal poesia de saber viver.

Junho/92

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